O Dr. Tedd Tripp é escritor, conferencista e presbítero na Grace Fellowship Church em Hazelton, Pennsylvania. Ele é autor de Pastoreando o Coração da Criança, e coautor com sua esposa Margy de Instruindo o Coração da Criança.
Quão bem você se comunica? A maioria de
nós dará uma resposta tendo em vista nossa habilidade de apresentar
nossos pensamentos e ideias de uma forma convincente. No entanto,
gostaria de sugerir que a mais fina arte da comunicação em nossa vida
familiar não é o expressar de nossas ideias. É entender os pensamentos e
as ideias de outras pessoas na família.
Este é um tema recorrente no livro de
Provérbios. “O insensato não tem prazer no entendimento, senão em
externar o seu interior”. (Provérbios 18:2). A preocupação de um tolo em
uma conversa é colocar para fora o que está dentro dele. Mesmo quando
não está falando, ele não está realmente ouvindo. Ele está formulando o
que dirá em seguida. Seu próximo voleio na conversação não é devolver a
bola que você passou, mas passar uma nova bola.
Todos nós já fomos tolos em nossas
conversas. Anos atrás, tive uma conversa com meu filho antes de dormir.
Eu tinha que dizer algo. Ele logo percebeu que teria que
ouvir. No final
do meu monólogo, eu disse: “Bom, fico feliz que tivemos essa
oportunidade de conversar. Eu vou orar e depois você pode dormir”.
Depois de alguns minutos, ele bateu na porta do meu quarto: “Pai, você
disse que ficou feliz que nós tivemos uma boa conversa. Eu só quero
ressaltar que eu não disse nada”. Eu fui um tolo naquela noite. Eu
poderia ter tido uma verdadeira conversa. Poderia ter feito boas
perguntas. Tudo o que queria dizer poderia ter sido dito em um contexto
de fazer meu filho falar abertamente. Ao invés disso, não encontrei
prazer algum em compreendê-lo; eu estava interessado apenas em expressar
a minha opinião.
Um próximo versículo em Provérbios 18
observa, “Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha” (versículo
13). O tolo responde sem ouvir verdadeiramente, sem levar em
consideração ou pensar com atenção. Ter pressa em falar é vergonhoso.
Quando não ouvimos, demonstramos uma consideração mínima pelas palavras
das pessoas e uma consideração máxima pelas nossas.
Os pais geralmente respondem antes de ouvir. Sua filha começa a lhe fazer uma pergunta, mas você a interrompe:
“Eu sei o que você vai perguntar. A resposta é ‘não’”.
“Mas, pai,” ela responde.
“Qual parte do ‘não’ você não entendeu?”.
“Mas, pai, eu nem fiz minha pergunta”.
“Você não precisa fazer sua pergunta. Sou seu pai, eu sei o que você vai dizer antes de falar”.
“Mas, pai,” ela responde.
“Qual parte do ‘não’ você não entendeu?”.
“Mas, pai, eu nem fiz minha pergunta”.
“Você não precisa fazer sua pergunta. Sou seu pai, eu sei o que você vai dizer antes de falar”.
Minha filha nunca sai de um diálogo
desses agradecida por ter um pai que pode ler mentes. Ela se sente
irritada. Ela se sente impotente diante do meu capricho. Talvez eu tenha
até quebrado o princípio de Efésios 6:4: “Pais, não provoqueis vossos
filhos à ira”.
Observe a virtude de ouvir citada em
Provérbios 20:5: “Como águas profundas, são os propósitos do coração do
homem, mas o homem de inteligência sabe descobri-los”. Os objetivos e as
motivações do coração humano não são descobertos com facilidade. A
paciência, competência e habilidade de uma pessoa compreensiva são
necessárias para trazer à tona essas águas profundas.
Várias nuances da importância de ouvir
são refletidas nesses versículos. Provérbios 18:2 coloca a prioridade
sobre onde encontramos prazer em nossas conversas. O sábio se deleita em
compreender a pessoa com a qual está falando. Provérbios 18:13 enfatiza
que devemos desacelerar para que possamos responder tendo plena
compreensão do que está sendo dito. Provérbios 20:5 focaliza a escuta
ativa. Ouça o que está sendo dito e o que não está sendo dito e faça
perguntas que trazem à tona as águas profundas de dentro do coração.
A vida familiar floresce com a escuta
atenciosa. Demonstramos respeito pelos outros quando os escutamos.
Quando ouvimos, afirmamos: “Eu valorizo você e o que você está dizendo;
valorizo tanto que farei o que puder para facilitar a sua comunicação.
Acredito que o tempo que dedico a ouvir é um bom investimento. Ouvirei e
encontrarei alegria em compreender o significado e a intenção de suas
palavras”.
A escuta ativa fortalece os
relacionamentos. Esposas, filhos e maridos desejam ser compreendidos. O
que mais, além de ouvir, poderia expressar melhor o desejo de ter
relacionamentos significativos? O que poderia comunicar melhor o desejo
de conhecer e compreender alguém? Quando você ouve os outros, a sua
influência em suas vidas aumenta. As relações são fortalecidas.
O ouvir estreita os laços de lealdade e
de compromisso com o outro. As pessoas têm o desejo de serem
compreendidas, de sentir que suas palavras são importantes e que as suas
ideias são ouvidas com atenção.
O ouvir com atenção é importante para a
vida familiar. Sua família é a comunidade social mais fundamental para o
seu filho. A vida familiar florescerá em lares onde as pessoas não
somente falam, mas também ouvem. O que constrói a união no casamento e a
lealdade dos filhos? Um marido que escuta, que se deleita na
compreensão, constrói um casamento. Uma esposa que ouve, e pode até
mesmo reformular as palavras do marido em suas próprias palavras,
constrói um casamento. Os casais que são hábeis em fazer perguntas que
trazem à tona as águas profundas do coração edificam um casamento. Será
que o seu cônjuge sente que as palavras dele são valorizadas, que você
se deleita na compreensão, e tenta entender e pensar sobre as questões
com clareza? Será que o seu cônjuge se sente seguro de que as palavras
dele não serão distorcidas de acordo com a sua conveniência? Cônjuges
que ouvem dão exemplo de habilidades de comunicação eficaz e de
relacionamentos bíblicos às crianças que os observam.
Queremos que nossos filhos sejam bons
ouvintes. Queremos que valorizem as nossas palavras, então modelamos o
tipo de habilidade de escuta que queremos incutir para os nossos filhos.
As palavras de Salomão para seu filho não poderiam ser mais claras:
“Filho meu, guarda o mandamento de
teu pai e não deixes a instrução de tua mãe; ata-os perpetuamente ao teu
coração, pendura-os ao pescoço. Quando caminhares, isso te guiará;
quando te deitares, te guardará; quando acordares, falará contigo.
Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução, luz; e as repreensões da
disciplina são o caminho da vida” (Provérbios 6:20-23).
Ouvir com atenção oferece aos filhos
grandes tesouros: orientação, proteção e instrução. Luz e vida são
encontradas ao ouvir a mamãe e o papai.
O que nos impede de sermos ouvintes
atenciosos? Há uma resposta simples e uma resposta profunda. A resposta
simples é que ouvir custa caro. Exige mudar o ritmo no qual vivemos as
nossas vidas. Isso leva tempo. Lembro-me de uma noite de conversa com um
hóspede que ficou em casa por muito tempo. Eu fiz uma pergunta e me
sentei, enquanto ele ponderava a resposta por 45 minutos. Isso pode ser
um exemplo extremo, mas a conversa é muitas vezes marcada por longas
pausas de meditação, reflexão, organização de pensamentos e ideias. Com
frequência, uma conversa profunda com um bom ouvinte será a bigorna na
qual serão martelados os pensamentos complexos e os sentimentos
profundos.
A resposta mais profunda para a pergunta
tem a ver com a nossa humanidade. Somos membros de uma raça caída. Somos
orgulhosos, e as pessoas orgulhosas não ouvem bem. Somos um povo
medroso, e o medo nos impede de confiarmos uns nos outros.
Consideramo-nos maiores do que deveríamos. Temos o coração endurecido
pelo engano do pecado. Temos uma compulsão egoísta de servirmos a nós
mesmos, e muitas vezes estamos demasiadamente cheios de nós mesmos para
ouvirmos aos outros com uma atitude humilde.
Esses não são somente problemas de
comunicação, mas são problemas espirituais. Nosso orgulho, medo e
egoísmo trabalham contra a humildade definida em Tiago 1: “Sabeis estas
coisas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja pronto para ouvir,
tardio para falar, tardio para se irar. Porque a ira do homem não produz
a justiça de Deus”. (vv. 19-20). É necessária uma renovação interna
radical se quisermos ser prontos para ouvir e tardios para falar.
Felizmente, não fomos abandonados aos
nossos recursos e esforços no aperfeiçoamento próprio. Cristo veio ao
nosso mundo. Pense em como a encarnação fala às nossas necessidades de
comunicação. Ele valorizou tanto a compreensão e a identificação conosco
que se fez carne. Jesus não ficou lá nos céus assistindo nossas lutas.
Ele veio até nós. Ele assumiu um corpo como o nosso. Ele teve uma
psicologia humana. Ele experimentou tudo o que experimentamos, sem nunca
pecar. Ele viveu em nosso mundo. Ele é capaz de ver o mundo através de
nossos olhos. Hebreus 2 nos lembra de que ele tinha que ser feito
semelhante a seus irmãos em todos os sentidos, tinha que se identificar
completamente conosco para que pudesse nos redimir. Isso significa que
ele conhece as nossas dificuldades em ouvir. Ele também foi tentado a
falar quando deveria ter ouvido. Isaías 53:7 diz que, como um sacrifício
em nosso favor, ele nem sequer abriu a sua boca. Nosso Salvador
enfrentou esse desafio antes de nós. E triunfou. Ele acertou.
A chave para nós é que Jesus Cristo
vivenciou as mesmas dificuldades de ouvir que nós enfrentamos. “Pois,
naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para
socorrer os que são tentados”. (Hebreus 2:18). Isso significa que eu
posso me achegar a um Salvador disposto, capaz e poderoso, em meus
tempos de dificuldade. A sua experiência de vida no meu mundo – como
aquele que permanece plenamente homem e plenamente Deus – permite que
ele me ajude a enfrentar a tentação de falar, quando eu deveria ouvir.
Autor: Tedd Tripp
Fonte: http://www.ministeriofiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=494
Fonte: http://www.ministeriofiel.com.br/artigos_detalhes.php?id=494
Fonte: http://palavraprudente.wordpress.com/2013/07/23/ouvindo-em-casa/
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