Memória e autoconfiança: uma nova estratégia para tratamento do TOC?
por Enio Rodrigo, do O que eu tenho
Você
se lembrou de trancar a porta ao sair de casa hoje? Desligou a
televisão e o fogão? E as luzes, você confirmou se elas estavam
desligadas? Todos temos estas dúvidas de vez em quando, mas quando elas
não cessam e fazem com que seu dia fique completamente comprometido você
não se concentra, sua ansiedade aumenta e você tem uma vontade intensa
de voltar para casa para se certificar disso – isto pode ser sinal de
Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC).
O TOC faz com que as
pessoas entrem em um ciclo de dúvidas, e consequente medo de não terem
realizado determinadas rotinas de forma correta. Mas uma pesquisa feita
pela Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá – em conjunto com a
Universidade de Reading, no Reino Unido –, afirma que há novas
estratégias que podem ajudar indivíduos que sofrem com o transtorno.
O
estudo feito por Adam Radomsky aponta que até o momento apenas
processos de psicoterapia relativamente longos conseguiam a remissão do
TOC. “Mas a adesão (quando os pacientes levam o tratamento até o final) a
esse tipo de terapia muitas vezes é baixa e nossa pesquisa procurou
novas metodologias que, potencialmente, podem auxiliar no tratamento”,
diz o pesquisador.
A pesquisa partiu da hipótese de que indivíduos
com TOC muitas vezes têm uma percepção de responsabilidade muito
desenvolvida. “Certificar-se de que o fogão está desligado, porque isso
pode levar a um incêndio é algo muito forte, e desenvolver um ciclo
obsessivo com a segurança – checando várias vezes uma informação – é
reflexo desta ‘hiperresponsabilidade’”, afirma. Mas a resposta a esses
estímulos de forma obsessiva leva também a uma perda da autoconfiança,
de acordo com o autor.
“Modificar estes sentimentos de
responsabilidade exagerada e reduzir a antecipação de eventos ruins
podem reverter esses ciclos. Focar na forma como estas pessoas pensam,
mais do que nas suas atitudes, pode modificar as falsas crenças sobre
sua responsabilidade por esses possíveis eventos e os perigos que eles
representam”, afirma Radomsky, que vem desenhando novas estratégias para
tratar o TOC baseando-se em uma terapia que normalize o senso de
responsabilidade, melhore a confiança na própria memória – ou seja,
diminua a necessidade de checar várias vezes uma informação –,
melhorando a autoconfiança e diminuindo a sensação de culpa, e,
finalmente, aumentando a percepção do indivíduo sobre si mesmo e sobre o
que o cerca.
Até o momento a terapia proposta por Radomsky só foi
testada em laboratório com um número reduzido de pacientes, mas parece
estar dando resultados. “Para mim e para minha equipe, este trabalho –
que partiu de uma coletânea de diversas pesquisas anteriores com
resultados bastante satisfatórios – pode aumentar as taxas de melhora
nos pacientes com TOC. Agora iremos ampliá-lo para confirmar nossos
primeiros resultados positivos”, finaliza.
* Publicado originalmente no site O que eu tenho.

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