NOTA: Esta foi a Declaração que deu origem ao Concílio Internacional sobre Inerrância Bíblica (ICBI - International Council on Biblical Inerrancy), um esforço comum interdominacional de centenas de eruditos e líderes evangélicos para defender a inerrância bíblica contra os conceitos da Escritura de tendência liberal e neo-ortodoxa.
A Declaração foi
produzida Hyatt Regency O'Hare, em Chicago, no verão de 1978, durante uma
conferência internacional suprema de líderes evangélicos interessados. Ela foi
assinada por aproximadamente 300 eruditos evangélicos famosos, incluindo Boice,
Norman L. Geisler, John Gerstner, Carl F. H. Henry, Kenneth Kantzer, Harold
Lindsell, John Warwick Montgomery, Roger Nicole, J.I. Packer, Robert Preus,
Earl Radmacher, Francis Schaeffer, R.C. Sproul e John Wenham.
A ICBI se despediu
em 1988 com sua obra completa. O congresso no final das contas produziu três
maiores declarações: esta sobre inerrância bíblica, em 1978; uma sobre
hermenêutica bíblica, em 1982, e uma sobre aplicação bíblica, em 1986.
A Declaração a
seguir discorre sobre a doutrina da inerrância das Escrituras, esclarecendo-nos
sobre o que isso vem a ser e advertindo-nos contra a sua negação. Estamos
convencidos de que negá-la é ignorar o testemunho dado por Jesus Cristo e pelo
Espírito Santo, e rejeitar aquela submissão às reivindicações da própria
palavra de Deus. Diante da enxurrada de desvios doutrinários que tem invadido a
Igreja, é dever de cada crente manter-se firmemente apegado à Escritura, tendo
como certa a sua suficiência e a sua inerrância.
A Declaração de
Chicago Sobre a Inerrância da Bíblia
Prefácio
A autoridade das Escrituras é um tema chave para a igreja cristã, tanto desta quanto de qualquer outra época. Aqueles que professam fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador são chamados a
demonstrar a realidade de seu discipulado cristão mediante obediência humilde e fiel à Palavra escrita de Deus. Afastar-se das Escrituras, tanto em questões de fé quanto em questões de conduta, é deslealdade para com nosso Mestre. Para que haja uma compreensão plena e uma confissão correta da autoridade das Sagradas Escrituras é essencial um reconhecimento da sua total veracidade e confiabilidade.
A Declaração a seguir afirma sob nova forma essa inerrância das Escrituras,
esclarecendo nosso entendimento a respeito dela e advertindo contra sua
negação. Estamos convencidos de que nega-la é ignorar o testemunho dado por
Jesus Cristo e pelo Espírito Santo, e rejeitar aquela submissão às
reivindicações da própria palavra de Deus, submissão esta que caracteriza a
verdadeira fé cristã. Entendemos que é nosso dever nesta hora fazer esta
afirmação diante dos atuais desvios da verdade da inerrância entre nossos
irmãos em Cristo e diante do entendimento errôneo que esta doutrina tem tido no
mundo em geral.
Esta Declaração consiste de três partes: uma Declaração Resumida, Artigos de
Afirmação e Negação, e uma Explanação. Preparou-se a Declaração durante uma
consulta de três dias de duração, realizada em Chicago, nos Estados Unidos.
Aqueles que subscreveram a Declaração Resumida e os Artigos desejam expressar
suas próprias convicções quanto à inerrância das Escrituras e estimular e
desafiar uns aos outros e a todos os cristãos a uma compreensão e entendimento
cada vez maiores desta doutrina. Reconhecemos as limitações de um documento
preparado numa conferência rápida e intensiva e não propomos que esta
Declaração receba o valor de um credo. Regozijamo-nos, no entanto, com o
aprofundamento de nossas próprias convicções através dos debates que tivemos
juntos, e oramos para que esta Declaração que assinamos seja usada para a
glória de Deus com vistas a uma nova reforma na Igreja no que tange a sua fé,
vida e missão.
Apresentamos esta Declaração não num espírito de contenda, mas de humildade e
amor, o que, com a graça de Deus, pretendemos manter em qualquer diálogo que,
no futuro, surja daquilo que dissemos. Reconhecemos (...) que muitos que negam
a inerrância das Escrituras não apresentam em suas crenças e comportamento as
conseqüências dessa negação, e estamos conscientes de que nós, que confessamos
essa doutrina, freqüentemente a negamos em nossa vida, por deixarmos de trazer
nossos pensamentos e orações, tradições e costumes, em verdadeira sujeição à
Palavra divina.
Qualquer pessoa
que veja razões, à luz das Escrituras, para fazer emendas às afirmações desta
Declaração sobre as próprias Escrituras (sob cuja autoridade infalível estamos,
enquanto falamos), é convidada a fazê-lo. Não reivindicamos qualquer
infalibilidade pessoal para o testemunho que damos, e seremos gratos por
qualquer ajuda que nos possibilite fortalecer este testemunho acerca da Palavra
de Deus.
A COMISSÃO DE
REDAÇÃO
Uma Breve
Declaração
Deus, sendo Ele
Próprio a Verdade e falando somente a verdade, inspirou as Sagradas Escrituras
a fim de, desse modo, revelar-Se à humanidade perdida, através de Jesus Cristo,
como Criador e Senhor, Redentor e Juiz. As Escrituras Sagradas são o testemunho
de Deus sobre Si mesmo.
As Escrituras Sagradas, sendo apropria Palavra de Deus, escritas por homens
preparados e supervisionados por Seu Espírito, possuem autoridade divina
infalível em todos os assuntos que abordam: devem ser cridas, como instrução
divina, em tudo o que afirmam; obedecidas, como mandamento divino, em tudo o
que determinam; aceitas, como penhor divino, em tudo que prometem.
O Espírito Santo, seu divino Autor, ao mesmo tempo no-las confirma através de
Seu testemunho interior e abre nossas mentes para compreender seu significado.
Tendo sido na sua
totalidade e verbalmente dadas por Deus, as Escrituras não possuem erro ou
falha em tudo o que ensinam, quer naquilo que afirmam a respeito dos atos de
Deus na criação e dos acontecimentos da história mundial, quer na sua própria
origem literária sob a direção de Deus, quer no testemunho que dão sobre a
graça salvadora de Deus na vida das pessoas.
A autoridade das Escrituras fica inevitavelmente prejudicada, caso essa
inerrância divina absoluta seja de alguma forma limitada ou desconsiderada, ou
caso dependa de um ponto de vista acerca da verdade que seja contrário ao
próprio ponto de vista da Bíblia; e tais desvios provocam sérias perdas tanto
para o indivíduo quanto para a Igreja.
Artigos de
Afirmação e Negação
Artigo I.
Afirmamos que as
Sagradas Escrituras devem ser recebidas como a Palavra oficial de Deus.
Negamos que a autoridade das Escrituras provenha da Igreja, da tradição ou de
qualquer outra fonte humana.
Artigo II.
Afirmamos que as
Sagradas Escrituras são a suprema norma escrita, pela qual Deus compele a
consciência, e que a autoridade da Igreja está subordinada à das Escrituras.
Negamos que os credos, concílios ou declarações doutrinárias da Igreja tenham
uma autoridade igual ou maior do que a autoridade da Bíblia.
Artigo III.
Afirmamos que a
Palavra escrita é, em sua totalidade, revelação dada por Deus.
Negamos que a Bíblia seja um mero testemunho a respeito da revelação, ou que
somente se torne revelação mediante encontro, ou que dependa das reações dos
homens para ter validade.
Artigo IV
Afirmamos que
Deus, que fez a humanidade à Sua imagem, utilizou a linguagem como um meio de
revelação.
Negamos que a linguagem humana seja limitada pela condição de sermos criaturas,
a tal ponto que se apresente imprópria como veículo de revelação divina.
Negamos ainda mais que a corrupção, através do pecado, da cultura e linguagem
humanas tenha impedido a obra divina de inspiração.
Artigo V
Afirmamos que a
revelação de Deus dentro das Sagradas Escrituras foi progressiva.
Negamos que revelações posteriores, que podem completar revelações mais
antigas, tenham alguma vez corrigido ou contrariado tais revelações. Negamos
ainda mais que qualquer revelação normativa tenha sido dada desde o término dos
escritos do Novo Testamento.
Artigo VI
Afirmamos que a
totalidade das Escrituras e todas as suas partes, chegando às próprias palavras
do original, foram por inspiração divina.
Negamos que se
possa corretamente falar de inspiração das Escrituras, alcançando-se o todo mas
não as partes, ou algumas partes mas não o todo.
Artigo VII
Afirmamos que a
inspiração foi a obra em que Deus, por Seu Espírito, através de escritores
humanos, nos deus Sua palavra. A origem das Escrituras é divina. O modo como se
deu a inspiração permanece em grande parte um mistério para nós.
Negamos que se
possa reduzir a inspiração à capacidade intuitiva do homem, ou a qualquer tipo
de níveis superiores de consciência.
Artigo VIII
Afirmamos que
Deus, em Sua obra de inspiração, empregou as diferentes personalidades e
estilos literários dos escritores que Ele escolheu e preparou.
Negamos que Deus, ao fazer esses escritores usarem as próprias palavras que Ele
escolheu, tenha passado por cima de suas personalidades.
Artigo IX
Afirmamos que a
inspiração, embora não outorgando onisciência, garantiu uma expressão
verdadeira e fidedigna em todas as questões sobre as quais os autores bíblicos
foram levados a falar e a escrever.
Negamos que a finitude ou a condição caída desses escritores tenha, direta ou
indiretamente, introduzido distorção ou falsidade na Palavra de Deus.
Artigo X
Afirmamos que,
estritamente falando, a inspiração diz respeito somente ao texto autográfico
das Escrituras, o qual, pela providência de Deus, pode-se determinar com grande
exatidão a partir de manuscritos disponíveis. Afirmamos ainda mais que as
cópias e traduções das Escrituras são a Palavra de Deus na medida em que
fielmente representam o original.
Negamos que qualquer aspecto essencial da fé cristã seja afetado pela falta dos
autógrafos. Negamos ainda mais que essa falta torne inválida ou irrelevante a
afirmação da inerrância da Bíblia.
Artigo XI
Afirmamos que as
Escrituras, tendo sido dadas por inspiração divina, são infalíveis, de modo
que, longe de nos desorientar, são verdadeiras e confiáveis em todas as
questões de que tratam.
Negamos que seja possível a Bíblia ser, ao mesmo tempo infalível e errônea em
suas afirmações. Infalibilidade e inerrância podem ser distinguidas, mas não
separadas.
Artigo XII
Afirmamos que, em
sua totalidade, as Escrituras são inerrantes, estando isentas de toda
falsidade, fraude ou engano.
Negamos que a
infalibilidade e a inerrância da Bíblia estejam limitadas a assuntos
espirituais, religiosos ou redentores, não alcançando informações de natureza
histórica e científica. Negamos ainda mais que hipóteses científicas acerca da
história da terra possam ser corretamente empregadas para desmentir o ensino
das Escrituras a respeito da criação e do dilúvio.
Artigo XIII
Afirmamos a
propriedade do uso de inerrância como um termo teológico referente à total
veracidade das Escrituras.
Negamos que seja correto avaliar as Escrituras de acordo com padrões de verdade
e erro estranhos ao uso ou propósito da Bíblia. Negamos ainda mais que a
inerrância seja contestada por fenômenos bíblicos, tais como uma falta de
precisão técnica contemporânea, irregularidades de gramática ou ortografia,
descrições da natureza feitas com base em observação, referência a falsidades,
uso de hipérbole e números arredondados, disposição tópica do material,
diferentes seleções de material em relatos paralelos ou uso de citações livres.
Artigo XIV
Afirmamos a
unidade e a coerência interna das Escrituras.
Negamos que alegados erros e discrepâncias que ainda não tenham sido
solucionados invalidem as declarações da Bíblia quanto à verdade.
Artigo XV
Afirmamos que a
doutrina da inerrância está alicerçada no ensino da Bíblia acerca da
inspiração.
Negamos que o ensino de Jesus acerca das Escrituras possa ser desconhecido sob
o argumento de adaptação ou de qualquer limitação natural decorrente de Sua
humanidade.
Artigo XVI
Afirmamos que a
doutrina da inerrância tem sido parte integrante da fé da Igreja ao longo de
sua história.
Negamos que a inerrância seja uma doutrina inventada pelo protestantismo
escolástico ou que seja uma posição defendida como reação contra a alta crítica
negativa.
Artigo XVII
Afirmamos que o
Espírito Santo dá testemunho acerca das Escrituras, assegurando aos crentes a
veracidade da Palavra de Deus escrita.
Negamos que esse testemunho do Espírito Santo opere isoladamente das Escrituras
ou em oposição a elas.
Artigo XVIII
Afirmamos que o
texto das Escrituras deve ser interpretado mediante exegese
histórico-gramatical, levando em conta suas formas e recursos literários, e que
as Escrituras devem interpretar as Escrituras.
Negamos a legitimidade de qualquer abordagem do texto ou de busca de fontes por
trás do texto que conduzam a um revigoramento, desistorização ou minimização de
seu ensino, ou a uma rejeição de suas afirmações quanto à autoria.
Artigo XIX
Afirmamos que uma
confissão da autoridade, infalibilidade e inerrância plenas das Escrituras é
vital para uma correta compreensão da totalidade da fé cristã. Afirmamos ainda
mais que tal confissão deve conduzir a uma conformidade cada vez maior à imagem
de Cristo.
Negamos que tal confissão seja necessária para a salvação. Contudo, negamos
ainda mais que se possa rejeitar a inerrância sem graves conseqüências, quer
para o indivíduo quer para a Igreja.
Explanação
Nossa compreensão
da doutrina da inerrância deve dar-se no contexto mais amplo dos ensinos das
Escrituras sobre si mesma. Esta explanação apresenta uma descrição do esboço da
doutrina, na qual se baseiam nossa breve declaração e os artigos.
Criação, Revelação
e Inspiração
O Deus Triúno, que
formou todas as coisas por Sues proferimentos criadores e que a tudo governa
pela Palavra de Sua vontade, criou a humanidade à Sua própria imagem para uma
vida de comunhão consigo mesmo, tendo por modelo a eterna comunhão da
comunicação dentro da Divindade. Como portador da imagem de Deus, o homem deve
ouvir a Palavra de Deus dirigida a ele e reagir com a alegria de uma obediência
em adoração. Além da auto-revelação de Deus na ordem criada e na seqüência de
acontecimentos dentro dessa ordem, desde Adão os seres humanos têm recebido
mensagens verbais dEle, quer diretamente, conforme declarado nas Escrituras,
quer indiretamente na forma de parte ou totalidade das próprias Escrituras.
Quando Adão caiu, o Criador não abandonou a humanidade ao juízo final, mas
prometeu salvação e começou a revelar-Se como Redentor numa seqüência de
acontecimentos históricos centralizados na família de Abraão e que culminam com
a vida, morte, ressurreição, atual ministério celestial e a prometida volta de
Jesus Cristo. Dentro desse arcabouço, de tempos em tempos Deus tem proferido
palavras específicas de juízo e misericórdia, promessa e mandamento, a seres
humanos pecaminosos, de modo a conduzi-los a um relacionamento, uma aliança, de
compromisso mútuo entre as duas partes, mediante o qual Ele os abençoa com dons
da graça, e eles O bendizem numa reação de adoração. Moisés, que Deus usou como
mediador para transmitir Suas palavras a Seu povo à época do êxodo, está no
início de uma longa linhagem de profetas em cujas bocas e escritos Deus colocou
Suas palavras para serem entregues a Israel. O propósito de Deus nesta sucessão
de mensagens era manter Sua aliança ao fazer com que Seu povo conhecesse Seu
Nome, isto é, Sua natureza, e tantos preceitos quanto os propósitos de Sua
vontade, quer para o presente, que para o futuro. Essa linhagem de porta-vozes
proféticos da parte de Deus culminou em Jesus Cristo, a Palavra encarnada de
Deus, sendo Ele um profeta (mais do que um profeta, mas não menos do que isso),
e nos apóstolos e profetas da primeira geração de cristãos. Quando a mensagem
final e culminante de Deus, Sua palavra ao mundo a respeito de Jesus Cristo,
foi proferida e esclarecida por aqueles que pertenciam ao círculo apostólico,
cessou a seqüência de mensagens reveladas. Daí por diante, a Igreja devia viver
e conhecer a Deus através daquilo que Ele já havia dito, e dito para todas as
épocas.
No Sinai, Deus escreveu os termos de Sua aliança em tábuas de pedra, como Seu
testemunho duradouro e para ser permanentemente acessível, e ao longo do
período de revelação profética e apostólica levantou homens para escreverem as
mensagens dadas a eles e através deles, junto com os registros que celebravam
Seu envolvimento com Seu povo, além de reflexões éticas sobre a vida em aliança
e de formas de louvor e oração em que se pede a misericórdia da aliança. A
realidade teológica da inspiração na elaboração de documentos bíblicos
corresponde à das profecias faladas: embora as personalidades dos escritores
humanos se manifestassem naquilo que escreveram, as palavras foram divinamente
dadas. Assim, aquilo que as Escrituras dizem, Deus diz; a autoridade das Escrituras
é a autoridade de Deus, pois Ele é seu derradeiro Autor, tendo entregue as
Escrituras através das mentes e palavras dos homens escolhidos e preparados, os
quais, livre e fielmente, "falaram da parte de Deus movidos pelo Espírito
Santo" (2 Pe 1.21). Deve-se reconhecer as Escrituras Sagradas como a
Palavra de Deus em virtude de sua origem divina.
Autoridade: Cristo
e a Bíblia
Jesus Cristo, o
Filho de Deus, que é a Palavra (Verbo) feita carne, nosso Profeta, Sacerdote e
Rei, é o Mediador último da comunicação de Deus ao homem, como também o é de
todos os dons da graça de Deus. A revelação dada por Ele foi mais do que
verbal; Ele também revelou o Pai mediante Sua presença e Seus atos. Suas
palavras, no entanto, foram de importância crucial, pois Ele era Deus, Ele
falou da parte do Pai, e Suas palavras julgarão ao todos os homens no último
dia.
Na qualidade de Messias prometido, Jesus Cristo é o tema central das
Escrituras. O Antigo Testamento olhava para Ele no futuro; o Novo Testamento
olha para trás, ao vê-lo em Sua primeira vinda, e para frente em Sua segunda
vinda. As Escrituras canônicas são o testemunho divinamente inspirado e,
portanto, normativo, a respeito de Cristo. Deste modo, não é aceitável alguma
hermenêutica em que Cristo não seja o ponto central. Deve-se tratar as
Escrituras Sagradas como aquilo que são em essência: o testemunho do Pai a
respeito do Filho encarnado.
Parece que o cânon do Antigo Testamento já estava estabelecido à época de
Jesus. Semelhantemente, o cânon do Novo Testamento está encerrado na medida em
que nenhuma nova testemunha apostólica do Cristo histórico pode nascer agora.
Nenhuma nova revelação (distinta da compreensão que o Espírito dá acerca da
revelação existente) será dada até que Cristo volte. O cânon foi criado no
princípio por inspiração divina. A parte da Igreja foi discernir o cânon que
Deus havia criado, não elaborar o seu próprio cânon. Os critérios relevantes
foram e são: autoria (ou Sua confirmação), conteúdo e o testemunho confirmador
do Espírito Santo.
A palavra cânon,
que significa regra ou padrão, é um indicador de autoridade, o que significa o
direito de governar e controlar. No cristianismo a autoridade pertence a Deus
em Sua revelação, o que significa, de um lado, Jesus Cristo, a Palavra viva, e,
de outro, as Sagradas Escrituras, a Palavra escrita. Mas a autoridade de Cristo
e das Escrituras são uma só. Como nosso Profeta, Cristo deu testemunho de que
as Escrituras não podem falhar. Como nosso Sacerdote e Rei, Ele dedicou Sua
vida terrena a cumprir a lei e os profetas, até ao ponto de morrer em
obediência às palavras da profecia messiânica. Desta forma, assim como Ele via
as Escrituras testemunhando dEle e de Sua autoridade, de igual modo, por Sua
própria submissão às Escrituras, Ele testemunhou da autoridade delas. Assim
como Ele se curvou diante da instrução de Seu Pai dada em Sua Bíblia (nosso
Antigo Testamento), de igual maneira Ele requer que Seus discípulos assim o
façam, todavia não isoladamente, mas em conjunto com o testemunho apostólico acerca
dEle, testemunho que ele passou a inspirar mediante a Sua dádiva do Espírito
Santo. Desta maneira, os cristãos revelam-se servos fiéis de seu Senhor, por se
curvarem diante da instrução divina dada nos escritos proféticos e apostólicos
que, juntos, constituem nossa Bíblia.
Ao confirmarem a
autoridade um do outro, Cristo e as Escrituras fundem-se numa única fonte de
autoridade. O Cristo biblicamente interpretado e a Bíblia centralizada em
Cristo e que O proclama são, desse ponto de vista, uma só coisa. Assim como a
partir do fato da inspiração inferimos que aquilo que as Escrituras dizem, Deus
diz, assim também a partir do relacionamento revelado entre Jesus Cristo e as
Escrituras podemos igualmente declarar que aquilo que as Escrituras dizem,
Cristo diz.
Infalibilidade,
Inerrância, Interpretação
As Escrituras
Sagradas, na qualidade de Palavra inspirada de Deus que dá testemunho oficial
acerca de Jesus Cristo, podem ser adequadamente chamadas de infalíveis e
inerrantes. Estes termos negativos possuem especial valor, pois salvaguardam
explicitamente verdades positivas.
Infalível significa a qualidade de não desorientar nem ser desorientado e,
dessa forma, salvaguarda em termos categóricos a verdade de que as Santas
Escrituras são uma regra e um guia certos, seguros e confiáveis em todas as
questões.
Semelhantemente,
inerrante significa a qualidade de estar livre de toda falsidade ou engano e,
dessa forma, salvaguarda a verdade de que as Santas Escrituras são totalmente
verídicas e fidedignas em todas as suas afirmações.
Afirmamos que as
Escrituras canônicas sempre devem ser interpretadas com base no fato de que são
infalíveis e inerrantes. No entanto, ao determinar o que o escritor ensinado
por Deus está afirmando em cada passagem, temos de dedicar a mais cuidadosa
atenção às afirmações e ao caráter do texto como sendo uma produção humana. Na
inspiração Deus utilizou a cultura e os costumes do ambiente de seus
escritores, um ambiente que Deus controla em Sua soberana providência; é
interpretação errônea imaginar algo diferente.
Assim, deve-se tratar história como história, poesia como poesia, e hipérbole e
metáfora como hipérbole e metáfora, generalização e aproximações como aquilo
que são, e assim por diante. Também se deve observar diferenças de práticas
literárias entre os períodos bíblicos e o nosso: visto que, por exemplo,
naqueles dias, narrativas são cronológicas e citações imprecisas eram habituais
e aceitáveis e não violavam quaisquer expectativas, não devemos considerar tais
coisas como falhas, quando as encontramos nos autores bíblicos. Quando não se
esperava nem se buscava algum tipo específico de precisão absoluta, não
constitui erro o fato de ela existir. As Escrituras são inerrantes não no
sentido de serem totalmente precisas de acordo com os padrões atuais, mas no
sentido de que validam suas afirmações e atingem a medida de verdade que seus
autores buscaram alcançar.
A veracidade das Escrituras não é negada pela aparição, no texto, de
irregularidades gramaticais ou ortográficas, de descrições fenomenológicas da
natureza, de relatos de afirmações falsas (por exemplo, as mentiras de
Satanás), ou as aparentes discrepâncias entre uma passagem e outra. Não é certo
jogar os chamados fenômenos das Escrituras contra o ensino da Escritura sobre
si mesma. Não se devem ignorar aparentes incoerências. A solução delas, onde
se possa convincentemente alcança-las, estimulará nossa fé, e, onde no momento
não houver uma solução convincente disponível, significativamente daremos honra
a Deus, por confiar em Sua garantia de que Sua Palavra é verdadeira, apesar das
aparências em contrário, e por manter a confiança de que um dia se verá que elas
eram enganos.
Na medida em que
toda a Escritura é o produto de uma só mente divina, a interpretação tem de
permanecer dentro dos limites da analogia das Escrituras e abster-se de
hipóteses que visam corrigir uma passagem bíblica por meio de outra, seja em
nome da revelação progressiva ou do entendimento imperfeito por parte do
escritor inspirado.
Embora as Sagradas Escrituras em lugar algum estejam limitadas pela cultura, no
sentido de que seus ensinos carecem de validade universal, algumas vezes estão
culturalmente condicionadas pelos hábitos e pelas idéias aceitas de um período
em particular, de modo que a aplicação de seus princípios, hoje em dia, requer
um tipo diferente de ação (por exemplo, na questão do corte de cabelo e do
penteado das mulheres, cf. 1 Co 11).
Ceticismo e
Crítica
Desde a
Renascença, e mais especificamente desde o Iluminismo, têm-se desenvolvido
filosofias que envolvem o ceticismo diante das crenças cristãs básicas. É o
caso do agnosticismo, que nega que Deus seja cognoscível; do racionalismo, que
nega que Ele seja incompreensível; do idealismo, que nega que Ele seja
transcendente; e do existencialismo, que nega a racionalidade de Seus
relacionamentos conosco. Quanto esses princípios não bíblicos e antibíblicos
infiltram-se nas teologias do homem a nível das pressuposições, como
freqüentemente acontecem hoje em dia, a fiel interpretação das Sagradas
Escrituras torna-se impossível.
Transmissão e
Tradução
Uma vez que em
nenhum lugar Deus prometeu uma transmissão inerrante da Escritura, é necessário
afirmar que somente o texto autográfico dos documentos originais foi inspirado
e manter a necessidade da crítica textual como meio de detectar quaisquer
desvios que possam ter se infiltrado no texto durante o processo de sua
transmissão. O veredicto dessa ciência é, entretanto, que os textos hebraicos e
grego parecem estar surpreendentemente bem preservados, de modo que tempos
amplo apoio para afirmar, junto com a Confissão de Westminster, uma providência
especial de Deus nessa questão e em declarar que de modo algum a autoridade das
Escrituras corre perigo devido ao fato de que as cópias que possuímos não estão
totalmente livres de erros.
Semelhantemente, tradução alguma é perfeita, nem pode sê-;p, e todas as
traduções são um passo adicional de distanciamento dos autographa. Porém, o
veredicto da lingüística é que pelo menos os cristãos de língua inglesa estão
muitíssimo bem servidos na atualidade com uma infinidade de traduções
excelentes e não têm motivo para hesitar em concluir que a Palavra verdadeira
de Deus está ao seu alcance. Aliás, em vista da freqüente repetição, nas
Escrituras, dos principais assuntos de que elas tratam e também em vista do
constante testemunho do Espírito Santo a respeito da Palavra e através dela,
nenhuma tradução séria das Santas Escrituras chegará a de tal forma destruir
seu sentido, a ponto de tornar inviável que elas façam o seu leitor "sábio
para a salvação pela fé em Cristo Jesus" (2 Tm 3.15).
Inerrância e
Autoridade
Ao confiarmos que
a autoridade das Escrituras envolve a verdade total da Bíblia, estamos
conscientemente nos posicionando ao lado de Cristo e de Seus apóstolos, aliás,
ao lado da Bíblia inteira e da principal vertente da história da igreja, desde
os primeiros dias até bem recentemente. Estamos preocupados com a maneira
casual, inadvertida e aparentemente impensada como uma crença de importância e
alcance tão vastos foi por tantas pessoas abandonada em nossos dias.
Também estamos cônscios de que uma grande e grave confusão é resultado de parar
de afirmar a total veracidade da Bíblia, cuja autoridade as pessoas professam
conhecer. O resultado de dar esse passo é que a Bíblia que Deus entregou perde
sua autoridade e, no lugar disso, o que tem autoridade é uma Bíblia com o
conteúdo reduzido de acordo com as exigências do raciocínio crítico das
pessoas, sendo que, a partir do momento em que a pessoa deu início a essa
redução, esse conteúdo pode em princípio ser reduzido mais e mais. Isto
significa que, no fundo, a razão independente possui atualmente a autoridade,
em oposição ao ensino das Escrituras. Se isso não é visto e se, por enquanto,
ainda são sustentadas as doutrinas evangélicas fundamentais, as pessoas que
negam a total veracidade das Escrituras podem reivindicar uma identidade com os
evangélicos, ao mesmo tempo em que, metodologicamente, se afastaram da posição
evangélica acerca do conhecimento para um subjetivismo instável, e não acharão
difícil ir ainda mais longe.
Afirmamos que
aquilo que as Escrituras dizem, Deus diz. Que Ele seja glorificado. Amém e
amém.
Declação de
Chicago Sobre a Inerrância da Bíblia: In monergismo.com
Retirado do
apêndice do livro O ALICERCE DA AUTORIDADE BÍBLICA James Montgomery
Boice Páginas 183 a 196 Editado por: Sociedade Religiosa Edições Vida Nova
Edição: 1989; Reimpressão: 1997.

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