sábado, 5 de julho de 2014

VISÃO BÍBLICA DO DOM DE LINGUAS

Pr. Ivan Fidelis dos Santos
Focos em destaque:

1.Como observar realisticamente o dom de línguas em Atos 2.5-11?
2.O que o Espírito Santo revela a Paulo em I Coríntios 12.1 a 14.40?
3.O que Jesus Cristo fala acerca do dom de línguas?
4.Se o dom de línguas é tão importante, por que Jesus nunca se utilizou dele e, não o concedeu a seus discípulos?

Estas questões gerais esses temas tem sido negligenciados quando se trata do dom de línguas. Lê-se muito acerca de vários autores que comentam este assunto, porém, deve-se observar que livros seculares não são inspirados por Deus, por melhor que eles possam parecer. Somente a Bíblia é inspirada por Deus e, certamente, não é necessário outros livros para que explique-se o que nela está escrito.

Não estou aqui, de maneira nenhuma, discursando contra a literatura; afinal reconheço sua importância, especialmente ao meio acadêmico, pois concede ao leitor uma amplitude de conhecimentos e formas de pensamentos mais abrangentes. Sem dúvida a literatura secular, sobretudo a de pesquisas, tem muito a acrescentar em nossos estudos pessoais como se pode observar, até
mesmo, nas páginas anteriores desse artigo.

Porém, não se deve esquecer que nenhuma literatura pode ser superior a Bíblia, que é a Palavra de Deus.                                                                                                                                                    

I. Como observar realisticamente o dom de línguas em Atos 2.5-11?

É recomendável que antes de ler esta parte do artigo que se leia o texto bíblico para que alguns pontos que serão citados estejam nítidos na mente do leitor. Depois disso, observemos alguns pontos:

a. Versículos 7 e 8 => Afirma que os que estavam falando em línguas eram galileus e, por isso, é estranho ver que cada um ouvia falar em sua própria língua materna, ou seja, em seus idiomas originais de nacionalidade.

b. Versículos 9 a11 => Observa-se 16 nacionalidades citadas nesses versos, o que demonstra que as línguas eram idiomáticas, compreensíveis, e reconhecidas por aqueles que são de sua origem. Também, se deve deduzir que este fenômeno foi muito mais audível que realmente de falas linguísticas, afinal, não se pode acreditar que alguém falaria, por 16 vezes, a mesma palavra, traduzindo assim ao idioma do ouvinte. Analisando o texto, parece que aquele que falava assim o fazia naturalmente, porém, cada um ouvia na sua própria língua materna, como diz o vs 8. Parece-me muito mais próximo do que temos hoje conhecido como tradução simultânea em grandes congressos.

Finalizando o versículo 11, observa-se que estava se falando acerca das grandezas de Deus. O Espírito Santo não fala de si mesmo e, muito menos, se põe em foco central, seja em qualquer circunstância.

"Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar”. João 16.14

Muitos têm cometido erros demasiadamente infantis, para não dizer hereges, quando se trata da relação, especialmente, coletivas com o Espírito Santo; digo coletiva porque nem mesmo pode-se afirmar que tais indivíduos têm alguma relação pessoal com o Espírito Santo.

O que se costuma ver é diversas formas de "cultos” a um espírito, se é que há de fato algum espírito, levando os ouvintes ao êxtase, ao transe, a um surto psicótico coletivo, sem que haja propósito, sem ordem e sem decência.

II. O que o Espírito Santo revela a Paulo em I Coríntios 12.1 a 14.40?

Nestes textos o apóstolo Paulo escreve a igreja de Corinto, exortando-os acerca dos dons espirituais e, para isso, seria aconselhável que o leitor conhecesse um pouco sobre as religiões de mistério que predominavam no mundo gentílico. Essas religiões praticavam cultos sensuais, a divindades diversas, buscando o êxtase "espiritual” através da bebida (especialmente vinho) e do sexo (pelas mulheres que cediam seus corpos); e por muitas vezes, esse êxtase coletivo levava o povo ao delírio, um êxtase psicótico que regredia seu entendimento a uma linguagem primária (baaba-laala, meebi-axala; etc). Como uma criança aprendendo a balbuciar as primeiras sílabas. A isso, classificava-se como "dom de línguas”.

Sintetizando o raciocino, essa prática entre as religiões primitivas estava contaminando a igreja de Corinto, visto que, os novos convertidos ao cristianismo tentavam manter seus costumes religiosos.

"A respeito dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais ignorantes. Sabeis que, outrora, quando éreis gentios, deixáveis conduzir-vos aos ídolos mudos, segundo éreis guiados”. I Coríntios 12.1-2

Atualmente, a prática desse dito "dom de línguas” é comum em várias religiões, como pudemos observar na leitura dos artigos na primeira parte desse trabalho, a saber, no islamismo, hinduísmo, espiritismo, pentecostalismo, neopentecostalíssimo, e mais recentemente, no catolicismo carismático. A pergunta que fica é esta: Deus concordaria que o Espírito Santo concedesse dons a religiões tão contraditórias a sua Palavra?

No versículo 7 da primeira carta aos coríntios Paulo afirma:

"A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando a um fim proveitoso”.

Qual o fim proveitoso em um dom que tem gerado divisão na igreja de Cristo?

Muitos dos que hoje praticam esse êxtase coletivo, que chamam de "dom de línguas”, tentam justificar-se em I Coríntios 12.10 onde diz que há "variedade de línguas”. Certamente que esta confusão se dá pela falta de conhecimento, além da falta de vontade de interpretar a Bíblia corretamente, colocando suas experiências de sentimentos pessoais acima da Palavra de Deus; como se recebera uma revelação especial.

A expressão "variedade de línguas” deve ser observada no grego  ge,nh glwssw/n  (gene glosson), ou seja, "gêneros idiomáticos”. – Logo, podemos entender que o verdadeiro dom de línguas citado por Paulo nesse texto, trata-se de um fenômeno igual ao acontecido no pentecostes, observado em Atos 2.5-11, como já vimos no primeiro tópico, em que no livro de Atos 2:3 foram "distribuídas línguas” – glwssai – (glossai – idiomas). Portanto, conclui-se que o apóstolo Paulo está reafirmando o verdadeiro Dom de Línguas concedido pelo Espírito Santo; e combatendo o êxtase linguístico praticado pelas religiões de mistérios.

O capítulo 13 de I Coríntios é o caminho para um ponto final acerca do "dom de línguas” praticado sem um fim proveitoso:

"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como bronze que soa ou como címbalo que retine”.

Em outras palavras, "de que serve um dom espiritual sem amor, sem respeito pelos outros, sem comunhão?”. Um dom individualista que não visa o crescimento do corpo de Cristo, mas, somente a elevação do ego de uma só pessoa.

Observando o texto da carta aos Gálatas 5.22, vemos que o primeiro fruto do Espírito Santo é o amor. E como pode uma pessoa receber um "dom espiritual especial” se nem ao menos produziu o primeiro fruto?

Paulo, em I Coríntios 13.11, também exorta a igreja para deixar de infantilidade:

"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino”.

Também em I Coríntios 14.10 Paulo diz que há muitos gêneros de vozes (idiomas) no mundo; e de fato há; somente em Atos 2.5-11 são citados 16 deles, porém Paulo faz uma advertência: "…nenhum deles, contudo, sem sentido”. – Bem como no versículo 6 onde afirma que a congregação não teria nenhum proveito se ele falasse uma língua que ninguém pudesse entender.

O apóstolo Paulo era um poliglota, como nos revela em I Coríntios 14.18; mas nunca se valeu desse atributo para vangloriar-se, ao contrário, no versículo 19 ele afirma que prefere falar pouco contanto que todos entendam, ao falar muito num idioma que ninguém entende. Já em 14.39-40, diz que s houver necessidade de falar em outro idioma na igreja, que não era proibido, mas em seguida lê-se outra advertência:

"Tudo, porém, seja feito com decência e ordem”.

Algumas diferenças devem ser levadas em consideração quanto ao texto acerca do dom de línguas descrito no livro de Atos, em contraposição ao "dom de línguas” registrado em I Coríntios, sendo elas:

Livro de Atos

I Coríntios

1. Deus fala aos homens: "Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem” Atos. 2.4

2. O homem fala a Deus: "Pois quem fala em outra língua não fala a homens, senão a Deus…”.  I Coríntios 14.2a

3. O dom era relativo à audição: "E como os ouvimos falar, cada um em nossa própria língua materna?”.  Atos 2.8

4. O dom era relativo à fala: "…Falam todos em outras línguas… Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos…”  I Coríntios 12.30b    e     I Coríntios 13.1a

5. O dom não necessitava de interprete:  Em nenhum momento em todo o relato do dom concedido pelo Espírito Santo, há alguma referência a interprete.

6. O dom necessita de interpretação: "Pelo que, o que fala em outra língua deve orar para que possa interpretar”. I Coríntios  14.13

7. O dom concedido fala de Deus: "tanto judeus como prosélitos, cretenses e arábicos. Como os ouvimos falar em nossas próprias línguas as grandezas de Deus?”. Atos 2. 11

8. O dom fala de mistérios: "…visto que ninguém o entende, e em espírito fala mistérios”.  I Coríntios 14.2b

9. O dom manifestado cumpria a profecia: "E acontecerá nos últimos dias, diz o Senhor, que derramarei do meu Espírito sobre toda carne; vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos jovens terão visões, e sonharão os vossos velhos”. Atos  2.17 (Ref. Isaías 44.3)

10. O dom não é relativo a nenhuma profecia; de outra forma certamente haveria alguma citação, assim como no livro de Atos.

11. O dom gera conversões: "Então os que aceitaram a palavra foram batizados, havendo um acréscimo naquele dia de quase três mil pessoas”. Atos 2.41

12. O dom gera divisão na igreja: "…Deus coordenou o corpo… para que não haja divisão no corpo…”.  I Coríntios 12.24b  e  25a

13. O dom gera comunhão: "E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações”. Atos 2.42

14. O dom gera individualismo: "O que fala em outra língua a si mesmo se edifica, mas o que profetiza edifica a igreja”. I Coríntios 14. 4


III. O que Jesus Cristo fala acerca do dom de línguas?


Curiosamente, em nenhum momento nos Evangelhos, onde é relatada a vida e obra de Jesus Cristo, há alguma citação direta acerca do dom de línguas. Porém existe um texto que merece ser examinado com maior atenção, a saber, Mateus 6: 5-8. Neste texto Jesus, claramente, está dirigindo-se a duas culturas diferenciadas tendo características próprias e, ambas, por Ele reprovadas; sendo elas:

1.Judeus: "E, quando orardes, não sereis como os hipócritas, porque gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, para serem vistos dos homens. Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa”. – v. 5

2.Gentios: "E, orando, não useis de vãs repetições, como os gentios; porque presumem que pelo seu muito falar serão ouvidos”. – v. 7

Observando estes textos e respeitando a hermenêutica para uma interpretação correta, pode-se ler que Jesus está referindo-se primeiramente aos judeus, que gostavam de apresentar-se como homens de oração, segundo suas tradições religiosas. As rezas e ladainhas eram (e ainda são) práticas comuns entre a comunidade judaica, aproximando-se muito das rezas católicas presentes em nossos tempos.

Os judeus praticam suas orações por imposição da Lei, e não por espontaneidade como deveria ser a motivação correta. Também, em suas orações, utilizavam de mantos os quais, em suas extremidades, haviam franjas onde dava-se nós a cada oração feita. Sendo assim, quando oravam em lugares públicos, pela quantidade de nós nas franjas sabia-se o quanto este judeu tinha orado e, assim, eram vistos pelos outros como sendo pessoas santificadas; homens de oração. Já que era este o propósito Jesus afirma:

"Em verdade vos digo que eles já receberam a recompensa”. – v. 5 final.

E mais, Jesus instrui na forma correta de oração:

"Tu, porém, quando orares, entra no teu quarto e, fechada a porta, orarás a teu Pai, que está em secreto, e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará”. – v. 6

Já os gentios conservavam outra prática de oração, "a língua em mistérios” devido à cultura local nos cultos a Afrodite, a deusa sensual das religiões de mistério.  Afrodite era a deusa grega do amor, do sexo, da regeneração, da fecundidade, do casamento e da beleza corporal. De acordo com o mito mais aceito, nasceu quando Urano (pai dos titãs) foi castrado por seu filho Cronos, que atirou os genitais cortados de Urano no mar, que começou a ferver e espumar, esse efeito foi a fecundação que ocorreu em Tálassa, deusa primordial do mar. De aphros ("espuma do mar"), ergueu-se Afrodite e o mar a carregou para Chipre. Por isso um de seus epítetos é Kypris.  Assim, Afrodite é de uma geração mais antiga que a maioria dos outros deuses olímpicos. Em outra versão (como diz Homero), Dione é mãe de Afrodite com Zeus, sendo Dione, filha de Urano e Tálassa.

Suas festas eram chamadas de afrodisíacas e eram celebradas por toda a Grécia, especialmente em Atenas e Corinto. Suas sacerdotisas eram prostitutas sagradas, que representavam a deusa, e o sexo com elas era considerado um meio de adoração e contato com a deusa. Também, o vinho fazia parte da celebração para que se alcançasse o êxtase do culto, momento em que praticavasse as línguas de mistérios, que eram palavras não compreendidas humanamente pois tratavasse de adoração aos deuses. Seus símbolos incluem a murta, o golfinho, o pombo, o cisne, a romã e a limeira. Entre seus protegidos contam-se os marinheiros e artesãos. Com o passar do tempo, e com a substituição da religiosidade matrifocal pela patriarcal, Afrodite passou a ser vista como uma deusa frívola e promíscua, como resultado de sua sexualidade liberal. Parte dessa condenação a seu comportamento veio do medo humano frente à natureza incontrolável dos aspectos regidos pela Deusa do Amor.

Jesus Cristo, quando se refere aos gentios e suas práticas de orações utiliza de uma palavra grega um tanto incomum, battalogh,shte  – battalogesete – que quer dizer: repetir palavras sem sentido e incompreensíveis; expressão popular "blá-blá-blá”.

Parece que aqui Jesus está se referindo a forma de culto gentílica a deusa Afrodite onde a língua de mistérios era praticada. Portanto, Jesus fala sim acerca de "linguas estranhas” e, mais que isso, a reprova, bem como as rezas judaicas:

"Não vos assemelheis, pois, a eles; porque Deus, o vosso Pai., sabe o de que tendes necessidade, antes que lho peçais”. – v. 8


IV. Se o dom de línguas é tão importante, por que Jesus nunca se utilizou dele e, não o concedeu a seus discípulos?

"Portanto para isto mesmo fostes chamados, pois que também Cristo sofreu em vosso lugar, deixando-vos exemplo para seguirdes os seus passos”. I Pedro 2.21

"Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também”. João 13.15

Jesus Cristo é a plena revelação de Deus a humanidade (Colossenses 1.19). Por isso, Ele deixou exemplo de tudo o que é necessário para que pudéssemos compreender qual a vontade de Deus quanto a nossa conduta, em todos os aspectos, segundo a vontade do Pai. Jesus nasceu como homem (Filipenses 2.6-8), cresceu como qualquer pessoa (Lucas 1.80), respeitou todas as leis, sendo elas humanas e espirituais (Mateus 5.17; Mateus 22.20); aprendeu a ser obediente (Hebreus 5.8), foi a festas (João 2.1-2); tinha amigos (Mateus 11.19); chorou (João 11.35); orou (João 17 – ex.); enfim, Jesus Cristo deixou exemplo de uma vida correta e justa; em nada deficiente para que toda a humanidade pudesse ter um parâmetro confiável de como agir segundo a vontade de Deus.

Em nenhum momento, em todo o relato bíblico, Jesus Cristo orou em línguas , e deve-se ressaltar que Ele orava muito. Também, nem mesmo depois de sua morte e ressurreição, quando Jesus aparece aos discípulos e concede que eles recebam o Espírito Santo, nenhum deles falou em línguas (especialmente de mistérios) – (João 20.22).

Muitos se apegam ao texto de Marcos 16. 17-18, para justificarem o "dom de línguas estranhas”, mesmo que a palavra utilizada seja  glwssaij  – glossais – idiomas. Porém deve-se observar que os sinais apresentados no texto são cumulativos, portanto aqueles que querem falar novas línguas deveriam, também, experimentar expelir demônios, curar os enfermos. E ainda assim, muitos dirão: "Eu faço isso!” – Mas a lista não acaba aí; devem também pegar em serpentes e beberem veneno.

As palavras do apóstolo Paulo em I Coríntios são propicias para este momento:

"Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino; quando cheguei a ser homem, desisti das coisas próprias de menino… Irmãos, não sejais meninos no juízo; na malícia, sim, sede crianças; quanto ao juízo, sede homens amadurecidos”. I Coríntios 13.11 e 14.20

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