ENTREVISTA: “Uma IGREJA só pode e deve crescer se não perder suas origens e ideais bíblicos“

Eleito durante a 82ªAssembleia da Convenção Batista Mineira,pastor Ramon Márcio de Oliveira, 36 anos, Bacharel em Teologia, Pós-Graduado em Aconselhamento Bíblico, cursando Ciências Sociais na Universidade Federal de Uberlândia, falou dos desafios da Convenção Batista Mineira.  Pastor titular da Igreja Batista Parque Granada, em Uberlândia, desde 2005, Ramon Márcio foi presidente da Associação Batista do Triângulo Mineiro por quatro mandatos e membro da Junta de Educação da Convenção Batista Mineira desde 2012.

 EXPRESSO MINEIRO: Quais são os desafios para os batistas mineiros?

Ramon Márcio: No momento, o nosso grande desafio é
o consenso quanto à nossa identidade e o planejamento quanto à nossa projeção. Antes de ter isso bem definido, qualquer combate será um desperdício de energia e de tempo.

EXPRESSO MINEIRO: Houve um contato com a diretoria para estabelecer quais os projetos terão prioridades?

Ramon Márcio: Houve um pequeno contato. Conversei por telefone com alguns membros da diretoria, com o pastor Márcio Santos e com alguns líderes, mas foi muito superficial dentro daquilo que propomos. Considero que as prioridades só serão definidas a partir de uma participação maior da base da Convenção (igrejas e Associações). Não dá para envolver apenas o topo da pirâmide num projeto de construção de um novo tempo se a base não for consultada. Seria como fazer um sapato antes de medir o tamanho do pé do usuário. Se a Convenção tem como regra e essência servir as igrejas (através das Associações), desprezar a opinião das mesmas é correr o risco de querer servi-las sem nos atermos para o que de fato elas precisam. Portanto, os projetos só existirão e serão agrupados após algumas reuniões com a nossa equipe que obviamente exigirá no mínimo uma amostra da opinião e participação do nosso povo.

 EXPRESSO MINEIRO: Quais serão as prioridades de sua gestão?

Ramon Márcio: Elaboração e execução de um Planejamento Estratégico formulado com o máximo de participação dos batistas mineiros e realização do mesmo por uma equipe altamente adequada.

 EXPRESSO MINEIRO: Como a igreja pode e deve crescer sem perder suas origens e ideais?

Ramon Márcio: Uma IGREJA só pode e deve crescer se não perder suas origens e ideais bíblicos. Se uma igreja crescer perdendo as origens, ela não cresceu, ela se perdeu enquanto igreja. Virou uma multidão apelidada de igreja. Isso é um perigo sutil porque multidões são extremamente sedutoras. Elas não seduziram Jesus. Nunca! O tema “Crescer”é sempre um chão minado. Por um lado têm os estagnados, obviamente doentes, mas por outro lado têm os observadores que advogam que a multidão é um fator de validação de um trabalho. Mas a recíproca pode ser verdadeira quando notamos que a multidão se evapora facilmente, isso quando não pede a crucificação daquele que outrora por ela fora erigido. Cresçamos sim, mas sem vender a alma, sem enterrar valores, origens, princípios e ideias. Afinal, uma igreja que perdeu as origens e ideias da Palavra se perdeu como igreja. Seu crescimento só interessa àvaidade e avidez de seus idealizadores. Então, como a IGREJA crescerá? Ora, mais importante que o fim éo meio. É a comunhão legítima, a oração não estereotipada, a doação que trucida o egoísmo, a perseverança no encontro no templo e nos lares, a insistência na doutrina que materializa o amor, o compartilhar incessante, a alegria incontida e a simplicidade de coração. Esse éo meio pelo qual uma IGREJA existe. Nada disso é mérito, é apenas o respirar. Nada disso deve ser tido como a especialidade de igreja A ou B, mas apenas a singeleza da jornada daqueles que são IGREJA. Vivendo assim a expansão será inevitável. O bem de Deus circulará e esse corpo crescerá na graça.

 EXPRESSO MINEIRO: De que forma a Convenção Batista pretende desenvolver novos líderes e formar uma geração futura?

Ramon Márcio: Esse é um grande desafio que está em voga. Nos últimos dias temos ouvido que o brilhante trabalho da Seleção Alemã é um projeto que começou há anos com planejamento, mudança de metodologia e confiança nos responsáveis. Resultado,forjaram uma nova geração, uma equipe apurada. Isso demonstra que formar uma nova geração relevante requer mais que apenas trabalho, mais que um projeto. As ferramentas para fabricarmos uma nova geração são indispensáveis, mas também é preciso consenso. Olhando para o passado e vivendo com coerência o presente devemos prever o futuro. E isso não é barato. Discutir o que nos acomete hoje e o que porventura pode nos levar ao sucesso ou ao fracasso amanhã é sempre um flagelo. Principalmente em terrenos democráticos e aglomerados de mentes “autônomas”. Temos visto o interesse da nossa liderança por aperfeiçoar nosso sistema de formação. Nossa Faculdade Teológica tem buscado a excelência, há também muitas igrejas com brilhantes ações de despertamento e formação de liderança. Em trabalho recente – não o projeto, mas sim a execução – a Convenção, orquestrada pelo Pr. Aloizio, realizou um excepcional encontro para líderes de pequenas igrejas no CBTL. Soube do sucesso do projeto, esse é o rumo. Muito dinheiro e esforço têm sido investidos, mas só formaremos uma nova e boa geração futura se de fato conseguirmos nos anteciparmos quanto aos tempos vindouros, caso contrário, nossas ferramentas serão estéreis e a nossa colheita, a nostalgia.

EXPRESSO MINEIRO: Como os batistas mineiros pretendem lidar com o aspecto social, atendendo as regiões do estado mais carentes?

Ramon Márcio: É difícil falar em atender os carentes que estão longe de nós se tudo o que temos são pequenos avanços quanto ao atendimento dos que estão do nosso lado. Isso é difícil porque há décadas temos tratado ação social como uma pauta secundária. René Padilha fala que reduziram a missão da igreja à comunicação oral do evangelho. Até que nos preocupamos com as necessidades materiais do nosso próximo. Raramente denunciamos a injustiça e a exploração, mas fazemos alguma coisa. Mas via de regra nossa missão é apenas evangelizar oralmente. Esse assunto é muito mais extenso que as pautas disponíveis, mas permita-me defender que, antes de qualquer ação institucionalizada, como sujeitos de Deus devemos nos comprometer com a realização do bem no dia a dia. “Vai e faz o mesmo!”. Jesus conta sobre um homem que foi abandonado três vezes, por seus salteadores, por um sacerdote e por um levita. Ele só não teve pior azar porque alguém se aproximou dele. Alguém se fez o “próximo”dele. Devemos ser o próximo dos que sofrem. Aproximação diária cabe a cada um, independente de estratégias generalizadas. O âmago do evangelho éa intimidade do Eterno com a humanidade. Que qualquer tipo de ação à sociedade –carente ou não –, antes de tudo, seja intrínseca e pessoal ou então ela será fundamentalmente política.  Evidente que nada impede que elaboremos estratégias e se uma estratégia se tornar ONG, que seja para a glória de Deus (algo não facilmente controlável). Mas antes de qualquer pretensão, façamo-nos os próximos dos carentes. Se isso acontecer em larga escala a partir de nós, as carências serão bem combatidas. Os projetos serão elaborados se a demanda for maior que os recursos individuais. Que nossos irmãos que se fizerem próximos da miséria do outro sejam os nossos olhos nas regiões carentes onde não estamos e que nossos olhos estejam abertos onde convivemos. Certamente a sensibilidade dos que não transferem para as ONG’s a responsabilidade de realizar o bem contribuirá muito para informar e motivar ainda mais nosso Comitê responsável por planejar e coordenar as ações necessárias diante das exigências emergentes.

Fonte: http://www.batistas-mg.org.br/entrevista-uma-igreja-so-pode-e-deve-crescer-se-nao-perder-suas-origens-e-ideais-biblicos/